“Espaço Além – Marina Abramovi? e o Brasil” estreia em Maceió, nesta 5ª feira, dia 30 de junho

Filme entra em cartaz no Centro Cultural Arte Pajuçara

“Espaço Além – Marina Abramovi? e o Brasil” estreia em Maceió, nesta 5ª feira, dia 30 de junho

Pesquisando as conexões entre arte e espiritualidade, ela acompanha cirurgias espirituais, participa de rituais de ayahuasca e cerimônias xamânicas, visita igrejas e terreiros de candomblé e percorre ainda grutas, vales e cachoeiras, além de minas de cristais em Minas Gerais

Principal expoente da arte de performance no mundo, Marina Abramovi? conhece o Brasil melhor do que muitos brasileiros. A artista sérvia visitou o país pela primeira vez em 1989. Foi para Serra Pelada, no Pará, pesquisar cristais e pedras semipreciosas e suas influências no corpo e na mente humana. Voltou ao país diversas vezes e, em 2007, conheceu a galerista brasileira Luciana Brito que passou a representá-la no Brasil. Anos depois, ao fim da exposição “A artista está presente” no MOMA, em Nova York, Marina contou para Luciana do seu desejo de fazer uma viagem de pesquisa artística sobre espiritualidade no Brasil. 

A jornada percorreu seis estados brasileiros e deu origem ao documentário “Espaço Além – Marina Abramovi? e o Brasil”, que estreia nesta quinta-feira, 30 de junho, em Maceió, onde entra em cartaz no Centro Cultural Arte Pajuçara.O filme já estreou nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte e Salvador.

Primeiro longa-metragem dirigido pelo brasileiro Marco Del Fiol, o road movie foi inteiramente captado e produzido no país entre 2012 e 2015 e acompanha a artista por um percurso de mais de seis mil quilômetros, em busca daquilo que ela chama de “pessoas e locais de poder”.

A equipe esteve com Abramovic em Abadiânia, Alto Paraíso e Chapada dos Veadeiros, em Goiás; Planaltina, no Distrito Federal; Chapada Diamantina, Cachoeira e Salvador, na Bahia; Corinto, em Minas Gerais; Curitiba, no Paraná; e São Paulo, capital. Durante este percurso, Marina conhece diferentes comunidades espirituais e participa das mais variadascerimônias sagradas, desbravando os limites entre a arte e a espiritualidade, entre o ritual e a performance. A experiência dispara em Abramovi? uma outra viagem, interna e pessoal, por lembranças e dores do passado.

O desdobramento da intensa pesquisa do documentário provocou impactos em sua carreira e obra. Os resultados de sua pesquisa foram apresentados ao público na exposição “Terra Comunal – Marina Abramovi? + MAI”, realizada em 2015 no Sesc Pompeia, em São Paulo. Principal mostra da performer na América do Sul, marcou os desdobramentos da pesquisa de Abramovi? no Brasil e em sua carreira. Ao exibir estes resultados em primeira mão ao público brasileiro, a artista presta sua homenagem ao país. 

“Espaço Além – Marina Abramovi? e o Brasil” foi produzido pelas irmãs Jasmin e Minom Pinho, da Casa Redonda. O filme conta com a produção associada da galerista Luciana Brito, da artista Paula Garcia e da empresa Flagcx, direção de fotografia de Cauê Ito, montagem de Marco Korodi e Marco Del Fiol e trilha sonora original da dupla mineira O Grivo.A distribuição no Brasil é da Elo Company e codistribuição, da SPCINE. O documentário, que teve première internacional no Festival South by Southwest 2016, já tem distribuição garantida na Itália pela I Wonder Pictures.

 

PESSOAS DE PODER, LOCAIS DE PODER

 

Eu vim para o Brasil em busca de ‘locais de poder’ e de pessoas com um certo tipo de energia. Com ‘locais de poder’, quero dizer cachoeiras, árvores, paisagens, rios, plantas, pássaros, insetos. Ou seja, locais onde o céu é vasto e cheio de nuvens. Onde a chuva vem de uma vez e, assim que começa, termina. Onde se respire o ar a plenos pulmões. E quando menciono pessoas com um certo tipo de energia, me refiro àquelas que realmente aprenderam a retirar a energia tanto de fora quanto de dentro de si, transformar esta energia e devolve-la àqueles que não sabem fazê-lo”, explica Mariana Abramovi?.

“Espaço Além” tem sua primeira parada em Abadiânia, no interior de Goiás, onde está localizada a Casa de Dom Inácio de Loyola, fundada João de Deus, em 1976. Além de participar da corrente de orações, a artista assistiu de perto às cirurgias espirituais realizadas pelo médium, envolvendo cortes e incisões. “É preciso ter fé. Quando se tem fé, não há dor. Quando não há dor, há fé”, diz a artista no documentário.

Ainda em Goiás, ela foi a Alto Paraíso, considerada a cidade mais mística do Brasil pela abundância de cristais em seu solo e a presença do Paralelo 14, o mesmo que passa sobre Machu Picchu e outros locais sagrados do hemisfério sul. Lá, visitou o Jardim de Maytrea, se banhou nas águas da Cachoeira dos Anjos e conheceu a raizeira Dona Flor (Florentina Pereira Dos Santos), 79 anos, que sem saber ler ou escrever, teve 18 filhos e adotou outros 27, vivendo dos medicamentos fitoterápicos que produz a partir das plantas do cerrado.

A viagem seguiu para o Vale do Amanhecer, uma comunidade espiritual fundada em Planaltina (DF), em 1969, pela médium clarividente Tia Neiva. Baseada em um sincretismo complexo, mistura elementos de religiões afro-brasileiras, cristianismo, espiritismo, misticismo e antigas crenças egípcias. “Eu me sinto completamente despreparada. Cheguei aqui sem fazer ideia do que encontraria. É como estar num filme do Kubrick, ou do David Lynch”, tenta explicar a artista durante a sessão. Itamir Damião, ex-sargento do exército, agora é Mestre Jaguar Doutrinador. “Nós sempre procuramos resolver os problemas. Todo problema que não é resolvido, é igual à nossa sombra: onde vamos, ele nos acompanha”, diz a Marina.

Na Chapada Diamantina (BA), Abramovi? participou de um ritual xamânico no Riachinho de Zezito Duarte e tomou ayahuasca pela primeira vez. A experiência foi muito ruim, talvez, a pior de sua vida, afirmou no filme. Mas por lá, também descobriu a espiritualidade e os mistérios do Vale do Capão. “Diante de mim está a gruta. Vou explorá-la. É como uma viagem de Gulliver em direção ao centro da terra. Parece que estou em um planeta estranho”, revela.

 Em Salvador, a artista esteve em uma das igrejas católicas mais conhecidas do país, Nosso Senhor do Bonfim, com suas fitinhas coloridas amarradas no portão de entrada e sala dos milagres repleta de pedidos e agradecimentos. Há pouco mais de 100 km dali, em Cachoeira, ela foi apresentada à Mãe Filhinha (Narcisa Cândido da Conceição), fundadora do Terreiro Yamanjá Ogunté e membro por mais de 70 anos da Irmandade da Boa Morte, confraria religiosa afro-católica de mulheres descendentes de escravos africanos. Na época, com 108 anos, e esbanjando energia, Filhinha entregou o segredo de sua longevidade. Sua força vinha da terra, das águas e de Deus, que “mandou buscá-la” em 2014, aos 110 anos.

O destino em Minas Gerais era certo, “a terra dos cristais”: Corinto. Em suas minas primitivas são encontrados belos aglomerados de cristais de quartzo. Foram os cristais brasileiros que inspiraram Abramovi? a criar série “Objetos Transitórios”, a partir da década de 1990. “Jamais vi cristais tão grandes, eretos. Eu os chamo de ‘punts’. Seguram o planeta. São como a acupuntura do planeta, irradiando energia”, diz. 

Curitiba foi a parada seguinte. Na cidade fica o Centro de Estudos Ancestrais Raízes de Dan, criado pelo fitoterapeuta Rudá Iandê, em 2006, com o objetivo de ensinar as pessoas a se reconectarem com a própria essência. Para ele, o corpo é uma entidade viva e inteligente, um santuário onde a força e a sabedoria da natureza se manifestam. Marina entregou seu corpo a diversos rituais, sentindo-se em casa. Lá, conheceu Denise Maia, que desde os 12 anos, estuda os mistérios do feminino sagrado e consciência humana. Para ela “quando você aceita sua natureza, se encanta com ela. Você começa então a ter consciência que existe uma pessoa dentro de você que você não conhece. E uma vez que está de posse dessa natureza, não tem como você ter violência contra qualquer coisa dentro do universo, porque o princípio da nossa natureza é o amor”.

   

SOBRE O DIRETOR

 

Nascido em Curitiba, em 1971, em uma família de paulistas de Tatuí, Marco Del Fiol se mudou para São Paulo em 1985. Em “Espaço Além – Marina Abramovi? e o Brasil” assina a direção, roteiro, montagem e produção executiva. Seu primeiro longa-metragem é o resultado de mais de 15 anos de experiência na realização de documentários sobre artistas, tendo em sua filmografia premiados médias-metragens e programas de TV sobre grandes representantes da arte contemporânea brasileira e internacional, como Olafur Eliasson, Isaac Julien e Marepe.

 “Acredito que espiritualidade e arte permitem expandirmos a percepção sobre a experiência de estarmos vivos. A vida é o meu objeto, arte e espiritualidade são os veículos de sua manifestação, é onde o invisível se faz visível. Eu queria que esse filme fosse antes de tudo uma experiência para quem o assistisse, que o espectador pudesse sentir o filme afetá-lo no físico, na mente e no espírito. Essa seria a forma de ser mais fiel ao trabalho da Marina, uma artista que exige de si a presença total e que convida o público a experimentar o mesmo estado”.

 

SOBRE A ARTISTA

Marina Abramovi? nasceu em 1946, em Belgrado, Sérvia. Seus pais militaram como guerrilheiros durante a Segunda Guerra Mundial: seu pai, Vojo, foi um comandante aclamado herói nacional após a Guerra e sua mãe, Danica, foi comandante na Armada, assumindo a direção do Museu da Revolução e Arte de Belgrado em meados dos anos 1960.

Estudou na Academia de Belas-Artes de Belgrado entre 1965 e 1970, concluindo pós-graduação na Academia de Belas-Artes de Zagreb, na Croácia, em 1972. Ainda no início dos anos 1970, começou a criar performances que se converteram em lendas. Elas incluíram deitar-se no centro de uma estrela de cinco pontas em chamas (símbolo do comunismo e de sua Iugoslávia natal) até perder a consciência; permanecer passiva durante seis horas enquanto o público fazia o que quisesse com ela (a ponto de pressionarem uma arma carregada em seu pescoço); e cortar um pentagrama em seu abdômen antes de chicotear-se e deitar-se nua em uma cruz feita de gelo.

Abramovi? e Ulay se conheceram na Alemanha em 1976. Foram parceiros – na arte e na vida – por doze anos. Antes da separação oficial, em 1988, ambos decidiram fazer uma performance de despedida, que ocorreu na Muralha da China e teve duração de três meses. Cada um saiu de um ponto e se encontraram no meio, encerrando a obra e a relação.

Um de seus trabalhos mais conhecidos foi “The artist is present” (A artista está presente), apresentado no MoMA, de Nova York, em 2010. Sentada em uma cadeira, ela encarava o visitante que se sentasse na cadeira a sua frente, pelo tempo que desejasse, sem trocar palavras, apenas olhando diretamente nos olhos da artista. 

 

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