Leureny divando

A maior estrela da música alagoana cantará Chico, Caetano, Sérgio Endrigo e Gloria Estefan no restaurante Comedoria Gourmet, sábado (28), às 20h

Leureny divando

Cantora pioneira dos desbravamentos (e desdobramentos) tropicalistas da música alagoana, Leureny Barbosa é um monumento da nossa cultura musical. Na ópera, no século 19, a prima-dona era a profissional à frente do drama operístico, a primeira cantora, a intérprete excelente e excepcional. Depois o termo foi-se generalizando, significando, também, aquela artista difícil no trato e inacessível aos fãs. Bem, Leureny não é nada complicada, tampouco tem ataques de estrelismos. Mas é a diva maior dessas terras caetés. Aos 72 anos, cantando com o vigor de quando imitava Gal Costa, lá nos anos 1970, repetindo os agudos da diva baiana em “Vapor Barato” – a emblemática canção de Wally Salomão que ela tornou a cantar em 2007, no teatro Deodoro, no show produzido pelo próprio teatro e pela revista Urupema, em homenagem aos 97 anos daquela casa de espetáculos referencial para todos que amam as artes nesse Estado. Em 2014, Leu – como é chamada pelos amigos – voltou ao Deodoro para comemorar 70 anos de vida e glória no show “Festa”, que teve a direção musical do irmão Zé Barros, o heroico guitarrista, e de outro mano dos palcos, o ator José Márcio Passos.

Leureny é um luxo, divando como nunca. Depois dessa comemoração dos 70, fez outro show no município de Paulo Jacinto, a terra natal, onde até então não havia se apresentado, digamos, oficialmente. “Eu nunca tinha feito um show lá. Foi lindo, foi pura emoção. Foi uma noite elegante e emocionada”, ela diz, em entrevista, interrompendo o ensaio, na segunda-feira (23), no apartamento onde mora na Ponta Verde, capital. “Ficou todo mundo num encantamento. Amigos e conterrâneos daqui de Maceió lotaram um ônibus e foram me ver.”

Isso já faz um ano. A tristeza de ser cantora – confessa – é essa: fazer o show e, depois, quando o pano desce – e agora? “Esse momento que estou ensaiando, trabalhando com os músicos, é maravilhoso”, afirma, preparando-se para a próxima performance, no sábado (28), no restaurante Comedoria Gourmet, à avenida Almirante Álvaro Calheiros, 110, bairro da Jatiúca. Com a cantora, uma dupla de instrumentistas poderosos, o violonista Willbert Fialho e o contrabaixista Félix Baigon. “Amo todo esse frisson de arrumar o espetáculo. Mas quando acaba dá aquela dor aguda que só passa quando vem o outro show.”

Monstra, ícone da música alagoana. Nesse show imperdível faz “uma mistura gostosa de vários estilos e autores”. “De Tom Jobim a Los Hermanos”, ela diz, citando, ainda, Djavan, Luiz Melodia, Caetano, Dominguinhos. “Ah, Lenine também, Herbert Vianna, e tem umas coisas em espanhol e italiano.” Por exemplo? “Gloria Estefan, Sergio Endrigo… Eu canto ‘Io che amo solo te’, amo essa música”, empolga-se, cantarolando a canção de Endrigo, gravada por ele em 1962, e depois pela estrelinha do pop italiano da época, Rita Pavone. “Tem gente, que ama mil coisas”, Leu traduz a letra. “E se perde, pelas estradas do mundo/ Eu que amo só você/ Eu pararei/ E te presentearei/ Com aquilo que resta da minha juventude.”

Ah, a juventude. Leureny declara que continuará a cantar – como preconizava Sergio Endrigo naqueles anos rebeldes e românticos –  com a juventude que lhe resta. Haja visto, há energia de sobra nessa moça. “Enquanto uma juventude estiver latente em mim, eu continuo a cantar”, decreta, com a altivez das… Divas.

E há mais canções inesquecíveis nesse show na Comedoria. “Gota d’Água”, “Atrás da Porta”, “As Vitrines”, de Chico Buarque; “Ciúme”, de Caetano Veloso; “Beijo partido”, de Toninho Horta.

Como as prima-donas que tinham horror às gravações, Leureny diz não gostar da própria voz gravada. “A gente se ouve melhor do que nas gravações. Pois é, essas grandes cantoras da ópera nem usavam microfone. Gravar é muito caro e eu não quero CD pirata. Tenho um registro em vinil que é lindo, gravado em 1985, e o CD ‘Dama da Noite’, de 2008. Tenho muito orgulho desses trabalhos.”

E quem quiser que corra atrás, que vá ao show e se deleite. E se você for empresário do ramo (afinal os espaços para bons espetáculos musicais são raros), convide-a para o próximo espetáculo. “Depois que você se apresenta dá aquele vazio, uma saudade”, a artista devaneia (ou seria divaneia?). “Fica faltando uma coisa, esvazia, eu fico oca.”

 

Leureny – Show com a cantora Leureny e os músicos Félix Baigon (contrabaixo) e Willbert Fialho (violão). Sábado (28), às 20h – couvert, R$ 30,00. Tel. para reservas: (82) 99332 4004.

 
Comedoria Gourmet – Avenida Almirante Álvaro Calheiros, 110, Jatiúca. Tel. 3325 7537. Terça a quinta-feira, das 12h às 23h; sexta e sábado, das 12h às 2h, e domingo, das 12h às 23h.

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