O portal Maceió 40 Graus entrevista o Teatro Mágico

Em entrevista exclusiva ao portal Maceió 40 Graus, O Teatro Mágico defende a democratização da música, fala sobre a relação com os fãs e a turnê Allehop e condena o governo Michel Temer

O portal Maceió 40 Graus entrevista o Teatro Mágico

Por: Janaina Ribeiro

Sem horas e sem dores, respeitável público pagão, o picadeiro da capital alagoana vai voltar a ser palco da trupe O Teatro Mágico. Depois de um jejum de sete anos sem se apresentar em Maceió, a banda de Osasco vai desembargar em solo caetés no dia 01 de julho para o show da turnê Allehop. O site Maceió 40º conversou com o compositor e vocalista do OTM, Fernando Anitelli, que garantiu estar com saudades do calor humano dos alagoanos. Ele prometeu uma noite especial para os fãs, detalhou o desafio de manter apresentações performáticas, defendeu a música livre e gratuita e reafirmou que o País sofreu um golpe com o afastamento da presidente da República, Dilma Rousseff. Anitelli também falou conosco sobre as inspirações para cada um dos seis álbuns e se emocionou ao lembrar do irmão Rodrigo, que foi homenageado com a canção mais famosa do grupo. Confira, abaixo, como foi esse bate-papo! 

1) Há sete anos O Teatro Mágico (OTM) não vem a Alagoas. Existe uma expectativa diferente em voltar para um estado onde há anos vocês não tocam? Ou não tem disso?

Não tem disso, não mesmo. Mentira! (Risos). Claro que tem diferença, e muita. Há tempos queríamos voltar a Maceió, mas nunca dava certo. A gente ainda enfrenta um problema de mobilidade muito grande no Brasil, é difícil viajar com uma aparelhagem tão grande. Quem conhece o show d'O Teatro sabe que viajamos com uma quantidade enorme de instrumentos e objetos para poder montar o nosso cenário. Então, quando o lugar é mais longe, especialmente no Norte e no Nordeste, os custos acabam ficando bem mais elevados. Porém, isso não é mais problema para Alagoas. Estamos chegando e cheios de vontade de dar amor pra vocês.

2) Alguma história, algum momento marcante que O Teatro viveu aqui em Maceió?

Sim. Apesar de termos feito poucas apresentações em Maceió, essa é uma cidade que sempre nos recebeu com muito carinho. Lembro-me como se fosse hoje, no último show, em 2007, quando recebemos cestas com doces e produtos típicos da terra. Tudo delicioso. Foi como se estivessem cuidando da gente, um tratamento lindo. E ganhamos também CDs de artistas alagoanos. Achei bacana essa iniciativa de algumas pessoas de quererem que O Teatro conhecesse o que o estado produz de bom culturalmente.

3) São 13 anos de existência da trupe, com cinco álbuns em estúdio, três DVDs e um disco ao vivo. E agora tá chegando o Allehop. A principal característica do grupo, que é a junção de tantas artes performáticas, nunca mudou. Mas, o ritmo dos discos sofreu algumas mudanças… Esse último, por exemplo, tem uma pegada mais eletrônica. Como é o processo de construção de um novo álbum? O que está suscetível à mudança e o que jamais pode deixar de ter?

No princípio, eu imaginava O Teatro no palco, como uma peça. Seria um grupo musical e atores fazendo interpretação. Mas, depois vi que a trupe tinha uma saúde criativa que nos permitia ousar e aí, foi isso que fizemos. Resolvemos pegar essa pluralidade de expressões artísticas e criar o nosso espetáculo. É por esse motivo que cada álbum, cada turnê, têm as suas características próprias, porque temos muita gente bacana integrando O Teatro. E funciona assim a construção de um novo disco, de um novo show: inicialmente nós analisamos e discutimos os principais assuntos que estão tomando conta do país e do mundo e também falamos um pouco sobre as nossas vidas. Em seguida, marcamos algumas reuniões para decidir sobre quais desses temas queremos explorar nas letras. Resolvida essa etapa, passamos a divagar sobre eles, a pesquisá-los melhor. Depois, pensamos nos grooves, nos arranjos, nas batidas e colocamos tudo no computador, que é a fase da pré-produção. Se der certo, levamos o material para ensaio e, após, para estúdio. Em resumo, é isso. E no caso das turnês, após as canções estarem prontas, compartilhamos todas elas com as mulheres da trupe, que vão pensar nas performances para cada música. Por último, um dia antes do início das viagens, a gente marca um ensaio geral. Isso mesmo, um dia antes. A turnê é quase toda feita de experimentação. É por isso que geralmente o show só está completo no último dia em que subimos ao palco (risos). E as únicas coisas que não podem mudar são a nossa ousadia em criar e a vontade de levar poesia para vocês.

4) O OTM nunca teve um álbum dançante. Por que essa escolha para o Allehop?

O Brasil tá carregado de ódio, de intolerância, as mulheres estão sendo destratadas, o machismo está imperando e a gente queria poder levar nossa música às pessoas para que elas tentassem sair um pouco desse universo tão pesado. A intenção é fazê-las viver momentos de alegria ao lado d'O Teatro e por isso essa paleta de cores e melodias envolvendo o novo disco e a nova turnê. Então, Allehop, que é uma expressão circense ancestral, tem esse significado: pra cima! É um álbum que resgata a verdadeira alegria da banda, sem deixar de registrar, claro, o protesto e as críticas construtivas que sempre fizemos.

5) Se Allehop resgatou a alegria d'O Teatro, isso significa dizer que o disco Grão do Corpo foi mais intimista, mais triste?

Cada álbum tem suas características próprias, seu conceito, suas temáticas. O 1º, 'Entrada para Raros', foi mais romântico e com baladinhas lúdicas. No 2º, 'Segundo Ato', falamos sobre a falta de democracia e o cidadão de papelão. No 'Sociedade do espetáculo', discutimos o cotidiano político e cultural do Brasil. E aí veio o 4º álbum, o 'Grão do Corpo'. Realmente ele foi mais intimista porque nós ainda estávamos de luto, fazia pouco tempo que havia perdido o meu irmão mais velho, o Rodrigo, o meu Rô. Foi para ele que fiz a música que é o nosso maior sucesso até hoje: O 'Anjo mais Velho'. É nesse disco também que canto 'Perdoando o Adeus', que tem um pedacinho da letra que diz 'que a vida anuncia que renuncia a morte'. Foi um trabalho melancólico e de introspecção, sem dúvida.

6) Quando o Teatro sobe ao palco, levando instrumentos clássicos como violino, a arte circense, as artes plásticas, o próprio teatro e tanta poesia em forma de canção, o público fica, por muito tempo, parece que extasiado. Porque a vontade que a gente tem é mesmo de ficar olhando pra cada detalhe. Como é misturar todos esses elementos e mantê-los vivos em cada show, mesmo depois de tanto tempo?

Dá vontade de ficar prestando atenção? Que lindo ouvir isso, fico feliz. Bom, esse é o resultado fruto de uma construção coletiva, de muitas pesquisas, responsabilidade, paciência, humildade e entrega, muita entrega. Continuamos a levar essa combinação cultural ao público porque sabemos que a qualidade do nosso trabalho agrada os nossos fãs. E tudo o que queremos é isso, que o público goste, curta tudo aquilo que é preparado para ele com as melhores energias e com muito amor.

7) A turnê está acontecendo com um apoio bem bacana, vindo dos fãs. OTM pediu e o seu público se engajou no financiamento coletivo. Foi uma construção em conjunto que deu certo, né? Em cinco dias vocês atingiram a primeira meta. O que você pode falar dessa experiência?

Foi uma experiência fantástica. Pela primeira vez usamos a plataforma do Catarse para financiamento coletivo e ela deu super certo. Na verdade, tudo começou quando o meu irmão Gustavo, que é produtor da banda, sugeriu que consultássemos o público sobre o que ele achava de participar do processo de construção do picadeiro d'O Teatro Mágico. De início, a gente se perguntou se isso daria certo e como seria a nossa contrapartida. Mas, quando decidimos fazer a consulta, o retorno dos fãs foi surpreendente, vieram sugestões do Brasil inteiro. E aí, fizemos os kits com produtos do OTM, bolamos saraus poéticos, sorteamos viagens com a banda… Pensávamos em conseguir X para colocar a turnê na rua e, em 60 dias, quadriplicamos esse valor. Estamos bem felizes com o resultado, que só nos deu a certeza de que estamos no caminho certo na forma de nos relacionarmos com o público, é uma relação orgânica. É ele que nos oxigena.

8) E por falar em público, podemos dizer que a banda é um fenômeno na relação com aquelas pessoas que são apaixonadas pelo Teatro. Vocês conversam, dialogam com os fãs, têm a participação deles em muita coisa que constroem, interagem demais nas redes sociais. Só no Facebook, vocês têm mais de 1 milhão de pessoas que curtem o grupo. Sempre foi assim? O público sempre teve esse papel na vida da banda? E por quê?

Sempre foi assim, desde o princípio, lá em Osasco, quando fundamos a banda. A gente valoriza e respeita a querência do público e tenta fazer os shows de acordo com o que ele espera de nós. Música também é um estado de espírito e se você tem fãs que gostam tanto do seu trabalho, a ponto de despertar neles a vontade de construir um espetáculo ao seu lado, é quase uma obrigação deixá-los sugerir, opinar, discutir. Debater recombinações, histórias e experiências com as pessoas têm nos trazido excelentes resultados. Só estabelecendo uma relação assim é que o artista consegue saber do que o seu público é capaz. E, o nosso, tem sido parceiro demais. Muita gente, por exemplo, já tatuou trechos das canções do OTM. E essa é uma prova concreta de que a nossa relação com os fãs é algo que nos une além da música. Transcende a relação de artista e público. E isso é o melhor de tudo.

9) OTM criou um novo significado para a sigla MPB – música para baixar – e sempre defendeu a música livre. Esse conceito foi uma forma de tentar combater os efeitos da pirataria no Brasil, já que esse é um mercado negro? E se as canções da banda podem chegar por streaming, por meio de downloads gratuitos e pelas redes sociais, qual é a estratégia que tem que ser utilizada para vender os discos que vocês produzem?

Pergunta importante. O Teatro realmente defende esse novo conceito de MPB – Música para baixar. A música tem que ser livre e eu vou te explicar os porquês. Os artistas precisam compreender a cadeia construtiva da música. Primeiro ele compõe, depois ensaia e grava e, na sequência, divulga. Como é que alguém vai consumir a minha arte se não sabe como ela é? Então, eu tenho que oferecê-la para que o público a conheça e faça a sua avaliação, para que ele conheça a alma do álbum. É a partir daí que vai acontecer a troca de afetividade. E se ele gostar, terá a opção de comprar. Por isso é importante ter o produto pra vender. Só que a gente também compreende que há os fãs que não têm condições de fazer a compra e isso não pode ser um impeditivo para eles deixarem de ouvir a banda. Então, independentemente de qualquer coisa, temos que disponibilizar os discos em todas as plataformas, gratuitas e pagas. Isso é democratizar a música. Outra questão que temos que reconhecer é que há mais de 20 anos os músicos não ganham dinheiro com a venda de CDs. Eles ficam com 4%, 5% do valor do álbum, ou seja, não dá pra sobreviver disso. Os artistas vivem mesmo é dos shows. Além do quê, o álbum é apenas um desdobramento do nosso trabalho. A essência mesmo está na música, na música livre. O som se propaga no ar e ele precisa se transportar até você.

10) Mudando um pouco de assunto, você, Fernando Anitelli, manifestou-se várias vezes contra o afastamento da presidente Dilma Rousseff, engrossando o coro daqueles que consideravam um golpe o que estava pra ocorrer em abril. E aconteceu, ela foi afastada. Qual é a sua visão hoje do que ocorre no Brasil?

O Brasil está ferido. O procurador-geral da República pediu as prisões do presidente do Senado, do presidente afastado da Câmara dos Deputados, de um ex-presidente da República e de um senador. Tem bandidos preconceituosos, homofóbicos e machistas legislando sobre a nossa gente, tem bandidos travestidos de pastores cristãos legislando sobre o corpo da mulher. Tem o Temer que participou de um golpe e não admite que recebeu R$ 5 milhões em dinheiro ilegal. E que fique claro que eu não votei na Dilma nas últimas eleições. Meu voto foi na Luciana Genro porque eu sou essencialmente de esquerda. Mas, da forma como as tramas foram feitas, ficou claro que aplicaram um golpe contra o Brasil e a sua gente. É por isso que nós temos que combater essa miséria humana que está no poder para pôr fim à nhaca que foi derramada sobre nós. Vamos às comunidades, aos clubes, às igrejas, às escolas, às universidades para debater com o povo. Vamos discutir economia para beneficiar o brasileiro e não somente o mercado e aqueles que lucram com ele. Nós não podemos deixar de reagir e essa luta precisa ser pedagógica.

11) E voltando ao show, o set list da turnê Allehop traz músicas de todos os discos anteriores?

Não tem como ser diferente. Temos um público que prefere o 1º disco, outro que gosta mais 2º e assim por diante. Vamos cantar parte do Allehop, obviamente. Mas, os grandes sucessos estarão no repertório com certeza. Será uma compilação dos seis álbuns.

12) “O Anjo mais Velho” não pode faltar em nenhuma apresentação, né?

Jamais! Ela é o nosso hino. Como já havia dito, é uma canção do 1º disco, que fiz para o meu irmão Rodrigo, que, há época, estava indo morar fora do Brasil. Foi uma homenagem a ele. E por coincidência, a música que tinha uma importância tão grande pra mim, terminou sendo a que o público mais gosta.

13) Sim, o DVD Recombinando Atos termina com ela. E é lindo o envolvimento do público. Chega a ser emocionante o momento em que você faz a capela…

Exatamente! Caramba, você me fez relembrar aquele momento e eu estou todo arrepiado, fiquei emocionado agora. Aquilo foi muito emocionante e uma grande surpresa pra mim. Gravamos o DVD pouco tempo depois que meu irmão havia morrido. Então, cantar aquela música não era uma coisa fácil pra o Anitelli. E o público, sabendo da dor que ainda era tão recente, resolveu levar bexigas brancas e levantá-las em homenagem ao Rodrigo no momento da canção. Foi um gesto tão sensível e cheio de amor que, no final da música, meu irmão caçula, o Gustavo, produtor do OTM, entrou no palco e me abraçou. Choramos juntos. A ocasião merecia aquela emoção.

14) E o que o público alagoano pode esperar do show do dia 01 de julho?

Amor! Muito amor no palco. Energia positiva e uma vontade enorme de matar a saudade desse público tão cheio de calor humano. O show será somente um detalhe diante da noite que estamos preparando para vocês. Allehop!


Serviço:

Show: O Teatro Mágico

Local: Teatro Gustavo Leite

Data: 01.07.16

Hora: 21h

Ingressos: Viva Alagoas e www.lojadeingresso.com

Valores: Plateia B, R$ 53,00 (meia) e R$ 73,00 (inteira social). Mezanino, R$ 42,00 (meia) e R$ 63,00 (inteira social)

Informações: 82 99610-2798

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